RESENHA
Ernani Xavier
O CUSTO HUMANO E SOCIAL DA IMPACIÊNCIA
Economista e escritor destacado, Eduardo Giannetti, construiu um dos textos mais lúcidos sobre a difícil gestão do dinheiro, o livro, “O Valor do Amanhã”. Trata sobre o fenômeno dos juros como incidência sobre toda e qualquer forma de troca de capital que ocorra dentro de um dado período de tempo. Tanto incide a taxa de juros, como uma remuneração, em qualquer transferência de valores do presente para o futuro, quanto nos custos de antecipar valores do futuro para o presente. O autor refere-se a um outro fenômeno, aquele da “miopia temporal”, quando o indivíduo dá demasiada importância ao que está mais próximo no tempo e da “hipermetropia temporal”, quando é atribuído um valor excessivo ao amanhã, em prejuízo das demandas correntes, utilizando apropriadamente a metáfora da visão. O míope, com freqüência é vítima do remorso, porque o futuro chega e cobra seu preço pelo passado despreocupado e o hipermétrope padece do arrependimento pelo desperdício de oportunidades perdidas com o excesso de zelo pelo amanhã. Cita outro economista, prêmio Nobel, Schopenhauer, que assegurou: “muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados”, mostrando que é incomum alguém manter com exatidão a justa medida. Também usa a metáfora biológica como recurso de explicação: a senescência é o valor pago pelo rigor da juventude: “a plenitude do corpo jovem se constrói às custas da tibieza do corpo velho...” Há um claro trade-off implícito em cada escolha intertemporal que fazemos, entre o “viver agora e pagar depois”, ou “plantar agora e colher depois”. O economista alerta para o fator instintivo fortemente presente nas crianças e nos animais que desconhecem o valor da espera e não possuem ferramentas racionais para avaliar o quanto esta pode resultar em algum valor. Neste caso, o fator desejo impõe pronto atendimento da necessidade sentida. Esta ansiedade é transferida para diversas situações da vida adulta que em que a pessoa não consegue dominar a impulsividade por meio de mecanismos racionais e entrega-se ao prazer do aqui e agora dos seus desejos de adquirir. Tais adultos minimizam ou ignoram totalmente o fator previdência tornando-se vítimas fáceis desta impulsividade. O economista adverte que a poupança de hoje é que permite o consumo maior de amanhã, quase uma lição de paciência e resignação budista. Conforme o amanhã sonhado é que é exigido o sacrifício de hoje, ensina Giannotti. Ele também alerta para o fato de que os juros fazem parte integrante da vida de todos, todos os dias. Aparecem nas intrincadas discussões sobre o crescimento econômico dos países como em detalhes mínimos do cotidiano individual. Salienta que o princípio econômico é simples e básico: o devedor antecipa um benefício para desfrute imediato e se compromete a pagar por isso mais tarde, e quem cede algo de que dispõe agora e espera receber um montante superior no final da transação. Em "O Valor do Amanhã", Eduardo Giannetti defende que esse aspecto dos juros é apenas parte de um fenômeno natural maior, tão comum quanto a força da gravidade e a fotossíntese. O fenômeno, portanto, transcende ao aspecto mercantil. Não A questão "atinge as mais diversas e surpreendentes esferas da vida prática, social e espiritual...” Destaca que desde o momento em que aprendeu a planejar sua vida, o homem tem de antecipar os seus desígnios. Mostra que, a sociedade brasileira tem tomado emprestado do futuro sem assumir condizente responsabilidade. E que é por isso que a dívida pública através do Estado beira um trilhão e meio de reais, e que a taxa de poupança é absurdamente baixa, menor que 20% do PIB. O Brasil vive, portanto, demasiadamente no presente, com seu governo inchado e assistencialista, sem a necessária poupança que se reverteria em investimentos produtivos. O próprio governo nacional age como uma criança, por impulso, para atender os desejos do momento. Quer o bônus da prosperidade sem o ônus da poupança. Quer o crescimento sem o custo da espera, e quando o resultado não é inflação ou crise na balança de pagamentos, é juros altos.
Eduardo Giannetti. O Valor do Amanhã - Ensaio Sobre A Natureza Dos Juros – Cia das Letras
Tags: Juros, poupança, planejamento financeiro
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sábado, 9 de fevereiro de 2008
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