domingo, 20 de janeiro de 2008

ASMENTIRAS QUE OS HOMENS CANTAM


PEGA NA MENTIRA...


Veríssimo fez do seu livro, “As mentiras que os homens contam”, um tratado da mentira no cotidiano de todos nós. Reúne histórias, algumas inéditas. O leitor vai topar consigo mesmo em alguma mentira contada no livro, com toda certeza. Afinal de contas, o que fazer quando você se para com um estranho que lhe pergunta: E aí, cara, não se lembra de mim? Aí você que ser simpático, “claro”... E ele insiste, “mas, de onde, mesmo?”. Quem não teve de inventar uma tremenda dor para a sua mãe, para não ter de ir á aula, já que não fez o tema do dia? O que dizer para a esposa que flagra o marido numa loja de lingerie, sendo que ele nunca lhe deu uma peça sequer, há anos de casados? Segundo o autor as mentiras que os homens contam já começam na infância. E a primeira vítima é invariavelmente a própria mãe. Depois vêm as namoradas, a esposa, a sogra, a amante, os amigos, o chefe. Torna-se uma incrível compulsividade masculina.
Em uma pesquisa de mercado.
-“O senhor tem amante?
- Foi minha mulher que o mandou?
- Onde é que está o microfone? É chantagem, é?
- Não, cavalheiro. Nós...
- Está bem, está bem... Tem uma moça que eu vejo , mas nem se pode chamar de amante. Pelo amor de Deus! É só meia hora de três em três dias. E ela é bem baixinha“.
O autor quase faz crer que mitirinhas que os homens contam provam a teoria de que os fins justificam os meios. Livram a cara. E isto é tudo. Até parece que todas as mentiras são apenas pecadinhos não mais do que veniais. Pois, mente-se até por amor ou para preserva-lo. Tornam-se em histórias claramente mal contadas, em que historiador e ouvinte se convencem de que, embora algo não esteja muito certo, vamos e venhamos... dá para tolerar na boa. E já que não faz tanto mal, o que tem demais uma mentirinha qualquer? E que seria de nós se contássemos e ouvíssemos a verdade sempre e nada mais que a verdade? O os fins são múltiplos: evitar constrangimento, se livrar de broncas, necessidade de ser gentil, apenas levar a vida na gozação. Fazem parte integrante do dia-a-dia. Mentiras no texto são defendidas a todo o custo, ainda que isto cause muitas e muitas lágrimas... de tanto rir....
Veríssimo apresenta com grande perceptividade e ironia criativa, todos as dicas, os macetes, as desculpas mais esfarrapadas que a sociedade utiliza. É uma crítica arguta da visão machista do marido brasileiro típico. No fundo, será que a mulher não curte a mentira dos seus maridos para a sua (dela) única conveniência? É leitura divertida, agradável do início ao fim, totalmente livre de moralismos ou estereótipos.

Luiz Fernando Veríssimo, As Mentiras que os Homens Contam, Edirora Objetiva, Rio de Janeiro, 2002.

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