domingo, 27 de janeiro de 2008

ROBERTO CARLOS, EM DETALHES

RESENHA
Ernani Xavier


O REI ESTÁ NÚ

Polêmica biografia do cantor Roberto Carlos Braga, censurada, pode ser baixada na internet.
Transcrevo aqui retalhos do artigo super abalizado do Jornalista Marcelo Xavier, especialista em música e história da música, escritor, ensaísta.
“Falando no Em Detalhes, trata-se um trabalho exuberante e primoroso em formato de grande reportagem sobre a vida e o ambiente em que Roberto surgiu para o estrelato, muito bem compilado e documentado com textos e entrevistas. Muitas das fontes que falam na obra são fatos conhecidos, ou seja, a despeito das valiosas informações desconhecidas do grande público; um desses fatos interessantes é a forma como ele foi dispensado da “turma da Bossa Nova” (“você quer imitar o João Gilberto e nós já temos o João Gilberto”). Araújo defende Roberto no livro diversas vezes, primeiro por entender que o cantor era real herdeiro da tradição representada por João, que amalgamava o gosto pelo antigo (Ari Barroso, Dorival Caymmi) e o novo (Tom Jobim, Vinícius de Morais) enquanto a “turma da Bossa Nova” renegava a Velha Guarda. Para ele, enquanto Carlos Lyra repudiava Francisco Alves e Orlando Silva, o cantor baiano os colocava como elementos representativos em seu trabalho. Roberto Carlos era, para ele, o vetor desde João Gilberto até o Tropicalismo, porque não repudiou a canção popular. O escritor ainda revela que o violonista viu Roberto cantar “Brigas Nunca Mais” na famosa Boite Plaza, um dos berços da Bossa Nova. Outra é que Roberto Carlos, ao contrário do que se fazia em matéria de rock no Brasil – cantores consagrados fazendo versões de gosto duvidoso para sucessões dos anos 50, como Bill Haley ou Paul Anka -, muito antes da Jovem Guarda teve a idéia de criar um estilo musical novo com música jovem, como eles sentiam, e não como as gravadoras achavam que devia ser. Nesse sentido, Paulo César diz que Roberto criou a Jovem Guarda antes da invasão britânica. A implicância com o disco, segundo o historiador, decorre que Roberto acha que desafinou em uma faixa do disco, “Não é Por Mim”. Para piorar, Côrte Real usou na capa uma foto de um disco do organista Ken Giffin. Mais: o texto de apresentação da contracapa dizia que Roberto era carioca e que “ Linda” era versão de Imperial para um tema de Bill Ceasar. A verdade é que nem Roberto Carlos era carioca, nem Bill Ceasar existia. Para a Columbia, seria mais atraente colocá-lo como alguém da Capital e que o disco trouxesse pretensas versões brasileiras para rock americano, o que era a voga da época. Essa sucessão de equívocos provocou o seu repúdio ao disco. Outro que merece destaque no livro é Evandro Ribeiro, primeiro produtor da segunda fase de Roberto. Evandro teria dado um valioso depoimento ao autor, que conta a vida da eminência perda dos discos do cantor justamente na melhor fase da sua carreira, como uma espécie de versão brasileira do Coronel Tom Parker. Roberto Carlos iria mudar para o rock; o problema é que a CBS já tinha o seu artista principal – Sergio Murilo, e a política da gravadora era de evitar concorrência direta (de acordo com Araújo, eles recusaram Altemar Dutra porque tinha Carlos José, por exemplo). A reviravolta ocorreu quando Roberto conseguiu impor tanto repertório quando músicos, contrariando toda a CBS, e fez algo impensado até então: mandou uma orquestra da gravadora passear e colocou a turma que tocava rock na Piedade, e que atendia pelo nome de Renato e Seus Blue Caps. A música seria “Splish Splash”, e o resultado final foi tão surpreendente que Evandro resolveu contratar os rapazes na hora. E o resto é a história...proibida”
Jornalista Marcelo Xavier (marcelo@rabisco.com.br), publicado no BLOG RABISCO, http://www.rabisco.com.br/colunas/latim/latim69.htmem, edição de 11 a 26 de maio de 2007.
Paulo César Araújo, Roberto Carlos Em Detalhes. São Paulo:Planeta, 2007 625 páginas.

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