domingo, 20 de janeiro de 2008

O GUARDIÃO DE MEMÓRIAS

A TIRANIA DO INCONSCIENTE

No Romance “O Guardião de Memórias”, Kim Edwards, espalha uma constelação de personagens que compõem uma vibrante história familiar. Impossibilitado de estar presente o médico que faria o parto dos gêmeos da senhora Norah Henry, o seu próprio marido, Dr. David foi quem conduziu os procedimentos. Tudo ocorreu normal, após uma “gestação excelente, sem nenhuma restrição de ordem médica”. ...”Se for menina, Phoebe. E, se for menino, Paul, em homenagem ao meu tio-avô. Eu lhe contei isso? - perguntou. - Pretendia lhe contar que eu tinha decidido... Todos os ingredientes eram de um conto maravilhoso para o jovem casal. Porém, a história não teria nenhum desdobramento fora do normal se um dos bebês, Phoebe, a menina, não fosse portadora da síndrome de Down. Tomado de um sentimento de imensa frustração e cruel insensibilidade, o médico decidiu se ”livrar” da filha. A enfermeira Caroline Gill tomaria conta da sua doação para algum orfanato e tudo ficaria resolvido. Diante da fragilidade do pequena menina, entretanto, a enfermeira mesma assume a sua criação adotando-a como mãe verdadeira. Não sem surpresa, entretanto. ...”Desde o instante em que balançara a cabeça, num vago aceno de concordância com o surpreendente pedido do Dr. Henry, Caroline tinha a sensação de estar despencando no ar em câmera lenta, à espera de bater no chão e descobrir onde se encontrava”.Para a Senhora Norah Henry, tudo não passaria de uma morte prematura. Paul cresceu em berço privilegiado, desenvolveu talentos artísticos. Viveu uma adolescência quase dentro dos padrões médios da classe abastada. Em casa, o clima haveria de refletir as conseqüências da escolha do Dr. Henry. O filho foi envolvido por exagerada proteção. Fugas em atividades múltiplas determinariam uma ausência para com a mulher. Dr. David submetia-se a dura pressão inconsciente intoleravelmente auto-inciminante. “Afinal, ele havia mentido: tinha dado a filha dos dois. Que houvesse conseqüências terríveis parecia inevitável e justo.” Mas, “Ele queria acreditar que fizera a coisa certa ao entregar sua filha a Caroline Gil. Ou, pelo menos, que tivera as razões certas. Mas talvez não fosse isso. Talvez não tivesse sido propriamente Paul que ele havia protegido naquela noite de nevasca, mas uma versão perdida dele mesmo”. A jovem, sensual e fogosa Norah, por tudo isso, encontrou razões fortes inconscientes para compensar a indiferença que sentia na relação. Para compensar a tristeza da morte da filha e fugir da monotonia, vivia como se o tempo resistisse em seguir em frente. Passou a curtir uma vida secreta, quem sabe com uma sensação de esperança e de um novo começo, da procura da novidade, da surpresa... “imaginando que omistério de uma outra presença, qualquer presença, tinha lhe parecido um alívio”. Nas suas mais internas das visões, sabia que a vida que ela estava levando não era a que havia imaginado para si. Apenas Phoebe, na sua inocência, “continuava a correr, perseguindo borboletas, passarinhos, partículas de luz ou as notas flutuantes que saíam do rádio”... A novelista, Kim Edwards, mergulha fundo no inconsciente das pessoas e no poder que ele exerce no seu cotidiano. Estilo narrativo envolvente e diálogo rico e objetivo revelam personalidades fortes mas, dominadas por medos, receios, segredos inrreveláveis que moldam o cotidiano de todos. A trama surpreende. Diverte. Revela o princípio psicanalítico de que nós somos o resultados de nossas “escolhas” e que estas determinam fortemente o nosso comportamento e a qualidade das nossas inter-relações. Kim Edwards.
O guardião de memórias. Rio Sextante, 2007

Um comentário:

Lindenberg disse...

Comprei este livro e dei de presente, mas agora que li seu post vi que devo lê-lo também, já coloquei na minha estante no www.skoob.com.br é o meu próximo livro.
:-)