domingo, 20 de janeiro de 2008

O HOMEM DOMADO


EI, “MACHO MAN”, SÓ NO CINEMA...


O livro “O homem domado”, da escritora argentina, Esther Vilar já é quarentão, mas não deixa de ser super atual. Ela começa relatando uma cena do cotidiano. Um carro esporte para no acostamento de uma auto-estrada movimentada nos Estados Unidos com o pneu furado, em manhã de chuva. A motorista sai e assume a clássica postura desvalida de quem não se dá costumeiramente bem em tais situações. Não demora muito e um cavalheiro pára atrás e prontifica-se a resolver o problema. Suja o terno e as mãos. Ela oferece-lhe simpaticamente um lenço branco. Ele aceita, meio constrangido. Ela despede-se e ele volta para casa tendo de se reorganizar para o dia de trabalho.
A escritora, nascida nos anos 30, que se casou com um médico alemão, descasou-se dele, voltou a casar com o mesmo. Depois de ter andado pelas Américas, África e Europa, passando por vendedora, operária, balconista, tradutora, e secretária, virou médica e finalmente, escritora. Torna-se famosa em todo o mundo, como a mulher que rasgou os “papéis” sociais de homens e mulheres do seu tempo, depois se viu, de todos os tempos.
O homem em termos médios, estatisticamente, sagrou-se tão superior á mulher que não “permite” que ela faça absolutamente nada. A mulher assumiu, lá também em termos médios, uma tremenda submissão e uma fragilidade capaz de faze-la morrer de vergonha, medo, culpa, com muita facilidade para atender a expectativas que sobre ela eram postas e obter justificação de sua extrema dependência.
No seu livro, Esther Vilar diz que não é nada disso. Que o homem é um ser absolutamente subserviente e só faz o que fez no início do livro, por isso. Segundo ela, este é o verdadeiro “macho man”, aquele que se desdobra pela fêmea, que assume a conta pelo resto da vida, pagando moradia, comida, roupas finas, abrindo a porta do carro, trabalhando extraordinariamente, para “apenas”, segundo ela, adquirir um título de varão, e usufruir a ilusória posse. Sequer na cama ele consegue ser superior. Para afirmar isto ela se vale do seu savoir médico e biológico para explicar o fato de a mulher, unicamente ela, conseguir simular orgasmo. E assim, este é o ponto: a mulher subjuga o homem e ele se torna o seu escravo. Mas, paradoxalmente, ele se sente feliz...
Para Esther Vilar o mais significativo nas relações de gênero, para a mulher, é garantir que sempre haverá alguém que faça as coisas por ela. Totalmente compreensível, claro, diante dos valores que a “educação” provia, mais as leituras da adolescência e as mensagens das telenovelas. Aqui os perfis femininos e masculinos impingidos e introjetados determinavam o contraste da seguinte maneira: mulheres frágeis, delicadas, puras e homens orgulhosos, fortes e dominadores.
Nesta precisa época vingava aquele paradigma em que o binômio amor/casamento que se consolidava na relação homem/mulher, onde o menos importante e o mais ausente ou camuflado seria o eros e a mais presente a repressão. A partir disso, aquela mulher crítica, que pensava, falava, escrevia, discutia, reclamava, se revoltava, teria que ser necessariamente a mais feia, mais masculina e conseqüentemente, mais perigosa.
Esther Vilar desmascara a conveniência. O que para todos era compreendido e aceito não era para ela. Foi ameaçada de morte pelas feministas já que anulara a força da sua luta. Para a escritora, a mulher já era e sempre foi um ente soberano, o que não penava a senhora Betty Friedan e suas seguidoras. O texto, publicado inicialmente em 1972, foi reeditado em 1998, é polêmico, chocante, provocador e, ao mesmo tempo, divertido. Ridiculariza o homem sem que com isso elogie a mulher que para ela são umas exploradoras. E ..“como contraprestación le pone la vagina a su disposición a intervalos regulares”. Pode-se até assegurar que Esther Vilar utiliza em sua obra fortemente a teoria antropológica da vagina, criada por ela mesma, pois é precisamente com esta ferramenta que ela mulher tortura e submete o homem.
Esther Vilar.O Homem Domado. Rio: Nórdica, 1972, 160 pp.

Um comentário:

xxxxx disse...

Adorei o Blog. Já estou seguindo.

Michele Santti