domingo, 20 de janeiro de 2008

EU SOU A LENDA

UMA BACTÉRIA Á SOLTA
Eu sou a lenda de Richard Matheson é uma ficção. Um romance que oferece um tratamento científico do tema do vampiro, com uma série de histórias que focalizam uma visão futura do "último homem sobre a Terra". O protagonista principal vive no final do século passado, época em que foi lançada sobre a terra uma bactéria provocadora de mortos-vivos. E que extermina a civilização. O herói sobrevive. Perde nesta guerra cercada de terror, a mulher e filha e se refugia numa construção que improvisa, onde não está completamente livre de ataques. Neste caso, agora, de vampiros horrendos, do sexo feminino. O texto apresenta questionamentos sobre o comportamento do personagem central, suas ansiedades sexuais, já que ficou solitário, sua fuga no álcool, sua curiosidade científica para entender e explicar a si mesmo o que estaria ocorrendo na face da terra. Procura tornar-se amigo de um cão de rua, com jeito de animal selvagem. Depara-se com uma personagem do sexo feminino que permaneceu imunizada, porém, pode ser intermediária de um bando remanescente e perigoso. Há um confronto que na realidade é confronto de valores entre os convencionais da civilização dizimada e alguns novos conceitos de vida, de sobrevida ou de sobrevivência. São experimentados novos padrões de conduta dos que remanesceram, bem contrastantes da normalidade do mundo perdido. O tipo de (re) organização social, a emocionalidade dos seus membros, a inteligência como capacidade de criar novas soluções para novos desafios, meios de comunicação, tudo compõe o cenário em conclusão. O livro já serviu de base para outros dois filmes, “Os mortos que matam” de 1964, “A última esperança da terra” de 1971. O autor brinca com vários chavões do vampirismo. Acontece então a grande sacada do livro, estes novos habitantes da terra o prendem como criminoso por ter exterminado com medicação equivocada para curar o câncer. Nos passos finais, Neville compreende que agora neste novo mundo, ele seria a base para os monstros de uma nova categoria, raça de homens. Ele seria o mito do lobisomem, do vampiro, de tudo que seria usado nas conversas sussurradas ao pé do ouvido, ele seria, portanto, a lenda. O texto enquadra-se na categoria de terror psicológico, com relato de novela de gênero fantástico, sub gênero de terror, um tipo de narração no qual se busca o susto, não através de evocação macabra que mexe com os sentidos, até as cenas sangrentas e o lúgubre, muito empregado no cinema, chamado de “efeitos especiais”. Tais efeitos se destinam a provocar a emotividade dos leitores. Neste sentido o texto alcançou seus propósitos, entre estes, fazendo com que o leitor se identifique magicamente com os sofrimentos e as vivências dos personagens. O livro de Matheson seguramente merece lugar na estante do fã do horror. Mas, particularmente alinha-se com textos que chama a atenção da perda de rumo dos destinos humanos. O ser humano perdendo a sua identidade e em conseqüência disso, perdendo-se. Afastando da sua natureza. A bactéria pode ser a bactéria de alguma disfunção do atual sistema planetário em perigo. Pode ser vista como a bactéria do individualismo do sistema capitalista. Pode ser a bactéria da cobiça que está acabando com a ecologia. Pode ser a bactéria do desamor que se manifesta através da crescente violência e degradação dos costumes. Pode ser a bactéria que corrompe a ética nos sistemas sociopolíticos e nos poderes. Pode ser qualquer tipo de desumanismo que cresce fecundamente entre os “humanos”.
Richard Matheson. Eu Sou a Lenda. Osasco: Novo Século, 2007, 295 pp
. http://planetalivros.blogspot.com/

Nenhum comentário: