domingo, 20 de janeiro de 2008

O TÚNEL

A SOLIDÃO DOS HOMENS
O Túnel de Ernesto Sabato conta a história de um pintor de quadros, Juan Pablo Castel, que matou quem amava. Numa exposição uma jovem mulher concentrou a sua atenção em uma particularidade do seu quadro, certamente, por algum motivo, muito especial para ela. Detém-se por um momento observando a menina sozinha caminhando pela praia, com os longos cabelos a balançar pelo vento. Na tela a garota é vista através de uma janela quase fechada. No cenário retratado: uma frágil menina vista através de uma pequenina janela, diante de um pedaço do mar. A moça se perde na multidão de Buenos Aires. Castel passou a procura-la alucinadamente, acabando por encontra-la. Seu nome, Maria. Maria Iribarne. Pede-lhe que fale sobre o quadro, ao que Maria lhe responde que a tela inspira-lhe um tipo de desesperança, nada mais. Também implora que Castel não se aproxime dela, pois, tem causado algum dano ás pessoas com quem ela se aproxima. No caso especial de Juan Pablo Castel a sua preocupação foi confirmada. Ao desfazer as suas fantasias sobre a mulher que amou obsessivamente e tomado de ciúmes doentios, acaba por assassina-la brutalmente.
Castel é personagem central do novelo humano de Sabato. Relata a trama na primeira pessoa. Afirma na primeira frase: “Basta dizer que eu sou Juan Pablo Castel, o pintor que assassinou Maria Iribarne...”, afirmando também que não sentia qualquer tipo de remorso sobre o feito. “Existiu apenas uma pessoa que me entendia. Mas essa foi precisamente a pessoa que matei.”
Sabato utilizou a imagem de um túnel que isola os seres humanos impedindo contatos entre si, como um mecanismo inconsciente de defesa e proteção da sua integridade sob constante ameaça nos dias atuais. Castel representa um espírito atormentado pela incomunicabilidade e por uma obsessão que o impossibilita de criar laços permanentes e solidificaras relações entre amantes. O Túnel, ao abordar de modo narrativo envolvente, o temário da solidão, incomunicabilidade e obsessão insana joga luzes reflexivas para a compreensão das trevas existentes dentro dos túneis criados pelos homens para levarem as suas vidas. Os túneis que construímos nos impossibilitam os encontros, nos fazem perder o sentido das nossas vidas, nos dispersam e reforçam a nossa solidão. Da fenda do seu muro, aquela sua pequena janela, Juan Pablo viu a anônima Maria, que lhe fez sentir que o seu destino era infinitamente mais solitário do que imaginara. “Em todo o caso havia um só túnel escuro e solitário: o meu, o túnel dentro do qual passei minha infância, minha juventude e toda a minha vida...” Na trágica morte da indefesa Maria, Sabato preconiza o provável desfecho de uma sociedade entubada em túneis que se movem em paralelo, “protegidos” por impenetráveis e absurdas paredes.
Ernesto Sábato. O TÚNEL.Rio: Francisco Alves Editora, 1981

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