domingo, 27 de janeiro de 2008

A FALTA QUE VOCÊ ME FAZ

RESENHA
Ernani Xavier


LAÇOS DE FAMÍLIA
No romance, “A falta que você me faz”, a escritora americana, Joyce Carol Oates retoma o assunto dos conflitos e dramas vividos por famílias de alto padrão social, de fundo psicológico. Bem no início do livro, a narradora e protagonista diz: "Esta é a minha história. Ela trata da falta que sinto da minha mãe. Um dia ela poderá também ser a sua história, certamente contada da sua própria maneira...” A trama gira ao redor de uma mulher solteira, passando um pouco dos trinta anos de idade, mas que, se comporta como uma adolescente excêntrica e meio rebelde. Ela mesma narra a sua história no romance. A mãe do enredo é a Senhora Gwen, viúva, cinqüentona, levando uma vida super estabilizada, curtindo as suas duas filhas, a Nikki e a Clare. Esta última, bem casada, com dois filhinhos. Nikki é repórter de uma rádio do interior, tem um relacionamento complicado com um cara casado. Enfrenta uma batalha ferrenha entre auto-estima e calorias... Nada mais do que um, dentre os seus múltiplos dilemas. A mãe é uma mulher realista, adora receber as filhas para eventos sociais. Ela é muito agradável, jovial, e desempenha o papel de núcleo do pequeno grupo familiar. Critica a filha pelos exageros na maneira de vestir, hábitos sociais, pintura de cabelo. "Oh, Nikki! O que você fez com o seu cabelo!!! Foi a primeira coisa que a mamãe me disse ao me ver.... Nem bem eu tinha entrado na porta da cozinha...Lembro-me ainda, a sua voz parecia o grito de um pássaro recém baleado em pleno vôo...” Mas, não obstante os desacordos entre ambas, a vida flui dentro dos padrões normais da classe média alta americana. Em “A falta que você me faz” o brutal assassinato da mãe é apenas o ponto de partida para a autora discutir o relacionamento entre ela e suas duas filhas de temperamentos opostos, e o próprio papel dessas personagens na família. Nikki, mergulha no seu mundo subjetivo de forma profunda. Ela “nunca tinha se visto como filha até se tornar órfã e passar por um processo de intensa transformação, lapidado pelo sofrimento da perda...” O foco da autora se move dentro da realidade da classe mais abastada, que, não obstante bem favorecida por aspectos materiais, se debate diante de desafios da afeição e das complexas inter-relações familiares. Depois da morte da senhora Gwen, a novela inclui observações de natureza emocional maravilhosas. A mãe do enredo possui um caráter muito especial, sendo super amável, enfatizando com isso o contraste que fica a sua súbita ausência. Depois da morte da mãe, Nikki acaba por tomar consciência dos seus reais sentimentos para com a mãe, para com a família toda, sobre o significado de ser uma filha. Começa a entender a si mesma e definir a sua relação com o mundo e com a vida. Inicia uma período de tristezas, sendo que reminiscência lhe consomem a alma de forma muito atroz. A autora é, ao mesmo tempo, erótica e uma cientista social. Uma alucinatória precisão sobre as relações do homem com a vida.
Joyce Carol Oates. A falta que você me faz. Rio: Nova Fronteira, 2006 - 432 páginas.
pALAVRAS-CHAVE: laços familiares, convivência com perdas, adolescência
http://planetalivros.blogspot.com/

Nenhum comentário: