GRITO DE ALERTA
O livro “Um minuto de silêncio”, é uma crítica social ao se concentrar em um fenômeno crucial ocorrido nos tempos modernos, nas instituições financeiras governamentais: o suicídio no trabalho. Nos anos 93, 94 e 95, se matou dentro de bancos públicos, um bancário a cada quinze dias em média. Nos três anos citados, foram 76 incidências. A maneira de se matar incluiu envenenamento, enforcamento, tiro, lançamento de janelas de edifícios, todos os eventos nos mesmos locais onde as pessoas trabalhavam. Este é o relato. O livro aborda a tipicidade do ambiente bancário quanto ao seu gerenciamento, o sistema financeiro brasileiro (salientando as delinqüências ocorridas) e a turbulência causada no setor por força de reajuste conjuntural mundial do sistema capitalista (acumulação sem limites e sem precedentes). Quanto ao processo decisório da gestão dos bancários é enfatizado o estilo autoritário da sua administração e a pressão por resultados. Mostra que o acirramento do conflito se dá pela introdução da tecnologia da informação, salientando que o sistema de informação bancário brasileiro é um dos melhores do mundo Faz o leitor distinguir entre os conceitos organização do trabalho e relações de trabalho. Mostra que a ideologia prevalente “prefere” explicar que a estrutura típica do trabalho bancário repercute em problemas de desajustes emocionais. Entretanto, no texto, o argumento mais forte é a contradição deste paradigma: o elemento mais determinante da depressão, pré-condição para o suicídio, tem sido o acirramento das relações de poder. Nos bancos, nas empresas demais igualmente, ela se mostra por um modelo superautoritário que causa medos (de ser assaltado, demitidos, de adoecerem no trabalho...), extrema subserviência (na forma de empregabilidade, o flagelo dos tempos modernos), humilhações, ameaças constantes... Em particular destaca o elenco possível das doenças dos bancários, ouvidos pelos ruídos ambientais, olhos, pela cintilância dos computadores, sistema respiratório pelas bactérias assimiladas na contagem do dinheiro, lesões nos tendões, pelo esforço repetitivo na digitação, comprometimento gastro-intestinal, pela exigüidade do tempo para refeições e ausência de intervalos para descanso e incontáveis somatizações pela pressão que é exercida sobre o empregado para atingir metas cada vez mais desafiadoras. Para o autor, este é o cenário do horror. Pondo sob exame o trabalho bancário, o autor, coloca luzes sobre a atual situação de relações de emprego na realidade brasileira e mundial. O sindicalismo enfraquecido e sem armas para se contrapor, os empregados ameaçados de inúmeras maneiras, conflitos e fugas externas para superar ingloriamente o impasse emergente, tudo ajuda a matar. As resistências humanas se enfraquecem. Somem as perspectivas de vida e de sobrevivência e as pessoas se matam justamente no local em que escolheram para realizar os seus sonhos e construir uma vida para si e para os seus familiares. Este é o quadro pintado. Perspectivas? Nenhuma. Ao contrário. Texto levanta a questão da nulidade de si mesmo (homo inútil) como a síndrome dos tempos modernos no setor financeiro e no cenário dos empregos de modo geral. Um setor não bancário que igualmente está dizimado trabalhadores é o telemarketing, acumulação dos call centres que tem sido o algoz de uma população de trabalhadores que ultrapassa um milhão no Brasil. O livro, mais do que um réquiem aos bancários mortos nas suas mesas de trabalho, é um brado de alerta! O que fazer? A resposta, talvez esteja num bilhete suicida deixado: Só Deus sabe...”!
Ernani Xavier. Um minuto de silêncio. Porto Alegre: Sindicato dos Bancários. 1999.
domingo, 20 de janeiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário