domingo, 20 de janeiro de 2008

TROPA DE ELITE

AS ORIGENS DA VIOLÊNCIA

O filme mostra uma das mais cruéis faces da violência na sociedade contemporânea brasileira, sem indicar absolutamente nada de boas perspectivas. Pode ser considerado como um bem fundamentado tratado da sociologia dos nossos tempos, em especial nas regiões metropolitanas do nosso país. Mostra cristalinamente que a violência e a violência policial são conseqüências diretas de um tipo de sociedade penalizada pela deseducação e pela ausência de valores básicos de convivencialidade no sentido dado ao termo por Ivan Ilich. O Filme retrata com muita fidelidade um ponto de encontro, de convergência. Deparam-se frente a frente, tal como ocorre no cotidiano das nossas cidades, marginais e policiais, ambas as categorias deseducadas ou com personalidades deformadas por um aprendizado social nas inúmeras subestruturas a que se submeteram: famílias ausentes, escolas fracas humana e tecnicamente, comércio espertalhão, empresas espoliativas, clubes esportivos geridos por delinqüentes, formação universitária fraudulenta, políticos imorais, Estado cada vez menor, poderes públicos (legislativo, judiciário e executivo) deservidos por criminosos representantes; acrescido a isto tudo a enorme e crescente dissimilitude econômica da sociedade em que vivemos. Todos estes elementos, na proporção da experiência de vida individual, são fortemente determinantes da atuação dos protagonistas do filme e por extensão daquelas categorias, os bandidos e os militares. O embate somente poderia ser a tragédia da forma como foi expressa. E o trágico embate está muito bem representados na visão competente do cineasta e no desempenho destacado do selecionado elenco.
O filme se baseia no livro Elite da Tropa, escrito pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro e ex-secretário Nacional de Segurança Pública do governo Lula, em co-autoria com dois policiais do Bope. O diretor José Padilha é o mesmo que dirigiu o Ônibus 174. Conta a saga de um militar que, em crise pessoal, vive a controvertida experiência na caserna, intermeada de corrupção dentro das entranhas da sua organização. Busca um substituto que deveria ser tão brilhante como ele, a partir de exigentes e obcecadas critérios de escolha. A música é envolvente, a maior parte das cenas está impregnada de truculência e autoritarismo. Mas estas técnicas são apenas suportes a um rico conteúdo sociológico cientificamente bem ordenado e super atual.
E o contemplativo cidadão brasileiro sente-se órfão de polícia e de justiça e perde o seu referencial de segurança pelo que paga regiamente por meio dos impostos e das pesadas taxas recolhidas aos cofres públicos.
Por muitas razões o filme choca. É provocativo. Induz á reflexão. Controverte: quem é herói? Quem é vítima? Quem sustenta as duas máquinas em confronto? Ajuda a compreender a antropologia do povo brasileiro e dos seus desafios diante da lei.

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